quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Eternamente - Parte 2

"Mas enquanto você não vem
Cuido do seu jardim
Colho derrotas régias no seu quintal
Delírio silêncio
Derrubo palavras no seu jornal"
(Rafael Zarpellon)

     Eu espero que ele entenda que não é amor de menos, é amor de mais, é por isso, só por isso. A paixão foi parar em algum outro lugar e sem paixão, sem paixão ninguém consegue viver. A calmaria é insuportável, eu preciso do grito, do soco, daquele agito dentro de mim que não vive mais ao lado dele. Eu espero que ele entenda, eu espero que ele não fique lá na frente daquela caneca de café gelado relembrando e remoendo... Entenda, por favor, que o que a gente viveu todos esses anos foi amor, mas...
     Olha, eu sei que eu vou voltar, eu sempre acabo voltando, mas é que dessa vez, algo mudou, dessa vez eu percebi que com ele, com ele eu tento reviver aqueles anos, os primeiros anos, as cartas, os beijos escondidos, nós éramos um, juntos nós éramos tudo, nós podíamos tudo e passamos por cima de muita coisa pra ficarmos juntos, só eu sei do que ele abriu mão pra ficar comigo, quando foi que toda essa paixão acabou? Quando foi que as cartas viraram um simples bom dia?
     Eu me perdi no meio do caminho, e quando eu olho pra ele, eu só consigo lembrar quem eu era, e eu tento desesperadamente voltar a ser o que eu era. Hoje, ao lado dele, eu me procuro, eu me procuro arduamente no meio dos pelos, dos olhos... Nos braços dele eu procuro repousar a cabeça que eu tinha há vinte e poucos anos atrás.
     Viver assim sufoca.
     Eu sei que entrar naquele avião não significa que tudo vai mudar, eu acho que eu não quero que as coisas mudem, eu tenho medo que isso aconteça. A verdade é que agora eu preciso ficar um pouco comigo, só comigo, não estou voltando por causa de outro, nem pra tentar achar outro, até por que ele é único, foi a única pessoa que conseguiu me entender, nós somos iguais, dois da mesma espécie, ele dizia que só com alguém da mesma espécie eu ia conseguir compartilhar o mesmo teto, e é, é isso, ele está certo.
     Ele sempre está certo. Ele também não agüentaria outra pessoa que não fosse eu!
     A questão é que agora eu preciso me achar, eu preciso de mim mais do que eu preciso de você, ME ESCUTA, merda, eu queria que ele estivesse aqui pra eu poder gritar: “é amor de mais baby, é muito amor, é tanto amor que eu não me amo mais...”

-Continua-

(Escrito por Julia Bottini)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Eternamente - Parte 1

"Dizem
Que apesar de todas as barbaridades
E de todas as nossas desavenças
Ser feliz nos custou a verdade
E a verdade apagou nossas crenças"
(Rafael Zarpellon)

     Enquanto ela voltava para Paris, o meu café esfriava na caneca que estava sobre a mesa. Estava frio naquele dia. Era Julho, inverno de 83. A minha mão pousou sobre a máquina de escrever, o pensamento vagava no silêncio inerte do meu escritório. Não conseguia deixar de pensar no quanto ela me fez feliz naqueles longos anos em que estivemos juntos.
     A estante a minha frente me remetia a lembranças boas, mas que eu não queria lembrar. Ela era de madeira grossa e escura, talhada pelo tempo. Ganhei da minha avó quando eu entrei na faculdade. Meu avô era marceneiro e fazia peças de madeira que duravam uma vida inteira. Os livros que ali estavam ainda eram da época em que eu a conheci.
     Era uma manhã clara, com céu azul e clima ameno. Era o primeiro dia de aula depois das férias do verão de 61. Eu caminhava pelo pátio da faculdade indo em direção a sala de aula, era meu segundo ano, e eu estava decidido a me empenhar mais, já que as minhas notas no ano anterior não foram tão agradáveis. Como era o primeiro dia, os calouros estavam agitados e empolgados por entrarem na faculdade. Eles formavam uma grande aglomeração na porta de entrada, conversando alto e rindo, meio nervosos pela angústia de não saber o que viria pela frente. Normal, eu tinha passado por isso, pensei comigo mesmo.
     Não fosse por ela, esse dia seria contabilizado como mais um dia normal na minha vida.
     Eu não era um rapaz que se podia dizer que tivesse muito sucesso com as mulheres. Talvez não pela aparência física, mas pela timidez que sempre fez parte da minha personalidade. O máximo que eu fazia quando via uma mulher bonita era abrir a boca, era o começo do esboço de uma admiração. Mas dessa vez foi diferente. Quando eu a vi passando por mim com aqueles cabelos negros, pele alva e de aparência macia, meu mundo parou. Naquele instante eu tive a certeza de que teria de tomar alguma atitude. O seu perfume entrou pelas minhas narinas assim como uma música clássica entraria nos ouvidos do meu pai - ele adora músicas clássicas, e eu herdei o seu bom gosto -, meus ouvidos filtraram o barulho da multidão, fazendo-me ouvir somente o vento.
Nunca vou esquecer daquele cheiro, e muito menos daquele dezenove de março de mil novecentos e sessenta e dois...

-Continua-

(Escrito por Rafael Zarpellon)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Good Morning


Hoje eu acordei sem sono, com vontade de sumir
A minha vida passou de um livro aberto pra jornal de ontem que você não leu
A minha cara tá amassada, pelo lençol e pelo sol, que me soca todas as manhãs
Hoje eu acordei sem vontade de mudar o mundo
Com a serenidade de quem fica velho e vai perdendo a esperança
Vou ficando cada vez mais homem, e dia após dia menos criança
Hoje eu acordei sem fé, nunca vi um milagre
Não tenho mais os mesmos velhos olhos brilhantes, que acreditavam no amor
Ele se foi, junto com a maior parte dos meus sentimentos bonitos
Hoje eu acordei sem alma
Eu a vendi na primeira encruzilhada do primeiro pesadelo da noite
O cara pra quem eu vendi me chamou de inconsequente
Mas o que é a inconsequência quando só se resta os dias e a mente? Demente!
Hoje eu acordei com a razão
E não me importa o que seus atos falhos me digam
Eu não vou escrever a mesma velha história
E nem errar os mesmos erros
Aliás, hoje eu acordei sem história, e sem disposição pra criar uma
Talvez eu viva e volte pra contar
Talvez eu seja eterno por ela
Talvez eu escreva um livro pra dizer
Que hoje eu acordei sem você
E quando você comprar o jornal de ontem, estará atrasada baby
Porque ontem eu não existia
Mas hoje...
Hoje eu acordei!

domingo, 3 de janeiro de 2010

Insight

Sabe quando você já não tem mais pretensão?
Foi com esse sentimento que eu fui.
Naquele dia, apesar do calor, eu sentia frio por dentro. Como se o dia estivesse nublado.
Quando vi você chegando, eu juro, não sabia que aquilo ia mudar.
Você veio, me disse olá. Meu chão sumiu.
Explodiu uma bomba dentro de mim, logo eu, que não tinha pretensão.
Mesmo sem ter trocado uma palavra, eu voltaria no tempo, pra viver aquele momento novamente, te ver chegando, me dizendo olá e olhando pra mim com aqueles olhos escuros brilhantes.
Mesmo tendo te visto somente uma vez, pra você eu contaria todos os meus segredos. Nunca tive certeza de quando meu dia chegaria, agora eu sei que chegou, e eu vou tentar. Vou deixar a porta aberta...
Porque eu sei, mesmo sem pretensão.
Desta vez eu sei que é você...
Meu dia de Sol.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

The Wind

Não é por querer, e nem por todas as vezes em que estive contigo. Mas é que o vento muda de direção, como se fosse alguém soprando a sua nuca, dizendo que o caminho não é por ali.
Não foi porque eu não quis. Na vida há ciclos de qualquer coisa. Alguns terminam quando termina a vida, outros terminam para que você possa continuar vivendo.
Eu quis ter você aqui. Hoje eu não quero mais.
Provei o doce sabor da juventude. Agora eu quero o prazer da maturidade.
Troquei o café por uísque, e estou trocando novamente, por água.
E não, não foi por querer. O vento soprou. O vinho está no ponto, e eu...
Eu estou só começando!
Um brinde a 2010, e aos momentos que me cabem.
Não por querer.