"Mas enquanto você não vem
Cuido do seu jardim
Colho derrotas régias no seu quintal
Delírio silêncio
Derrubo palavras no seu jornal"
(Rafael Zarpellon)
Eu espero que ele entenda que não é amor de menos, é amor de mais, é por isso, só por isso. A paixão foi parar em algum outro lugar e sem paixão, sem paixão ninguém consegue viver. A calmaria é insuportável, eu preciso do grito, do soco, daquele agito dentro de mim que não vive mais ao lado dele. Eu espero que ele entenda, eu espero que ele não fique lá na frente daquela caneca de café gelado relembrando e remoendo... Entenda, por favor, que o que a gente viveu todos esses anos foi amor, mas...
Olha, eu sei que eu vou voltar, eu sempre acabo voltando, mas é que dessa vez, algo mudou, dessa vez eu percebi que com ele, com ele eu tento reviver aqueles anos, os primeiros anos, as cartas, os beijos escondidos, nós éramos um, juntos nós éramos tudo, nós podíamos tudo e passamos por cima de muita coisa pra ficarmos juntos, só eu sei do que ele abriu mão pra ficar comigo, quando foi que toda essa paixão acabou? Quando foi que as cartas viraram um simples bom dia?
Eu me perdi no meio do caminho, e quando eu olho pra ele, eu só consigo lembrar quem eu era, e eu tento desesperadamente voltar a ser o que eu era. Hoje, ao lado dele, eu me procuro, eu me procuro arduamente no meio dos pelos, dos olhos... Nos braços dele eu procuro repousar a cabeça que eu tinha há vinte e poucos anos atrás.
Viver assim sufoca.
Eu sei que entrar naquele avião não significa que tudo vai mudar, eu acho que eu não quero que as coisas mudem, eu tenho medo que isso aconteça. A verdade é que agora eu preciso ficar um pouco comigo, só comigo, não estou voltando por causa de outro, nem pra tentar achar outro, até por que ele é único, foi a única pessoa que conseguiu me entender, nós somos iguais, dois da mesma espécie, ele dizia que só com alguém da mesma espécie eu ia conseguir compartilhar o mesmo teto, e é, é isso, ele está certo.
Ele sempre está certo. Ele também não agüentaria outra pessoa que não fosse eu!
A questão é que agora eu preciso me achar, eu preciso de mim mais do que eu preciso de você, ME ESCUTA, merda, eu queria que ele estivesse aqui pra eu poder gritar: “é amor de mais baby, é muito amor, é tanto amor que eu não me amo mais...”
-Continua-
(Escrito por Julia Bottini)
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